quarta-feira, 26 de maio de 2010

23 e 24 de maio - Agra e Taj Mahal

Após ter acontecido o casamento de Mayank fiquei com a sensação de missão cumprida, e bateu uma enorme vontade de voltar para casa. Sim, o casamento foi a principal justificativa para esta viagem, e depois de passar tanto tempo longe do trabalho e da rotina eu já estava bastante incomodado. Além disso já eram 9 dias em uma única cidade, e descobri também que me atrapalhei e trouxe uma dose inferior do meu remedinho da tireóide, o que invariavelmente me deixa extremamente sem paciência. (hummm entendi algumas coisas...)
Neste domingo não iria ter mais nenhum evento formal, apenas haveria um evento para os amigos, Lokesh me comentou que os amigos mais próximos iriam à casa de Mayank para enfeitar o quarto dele para a noite de núpcias, pois é, a galera tem que descansar um dia após a festa do casamento pra poder ter uma noite de núpcias decente.
O plano tinha sido ficar este domingo em Jaipur, partir pra conhecer Agra na segunda, e na terça ir pra Delhi, para pegar o voo quarta de manhã. Contudo eu já não queria mais ficar parado de jeito nenhum, e a vontade de me mover estava incontível. Então decidi que iria no domingo mesmo pra Agra, e na segunda pra Delhi, e assim já estaria mais perto de casa. Lokesh ficou um pouco desapontado, mas expliquei a ele que já estava muitos dias longe de casa, estava ansioso por partir.
Usei todas minhas habilidades de montar quebra-cabeças e consegui empacotar tudo na mala, ficando apenas com uma mochila e uma maleta de notebook pra carregar na mão. Então chamai Ram e pegamos a estrada.
As rodovias que saem de Jaipur são bem melhores do que aquelas que pegamos pro norte. Todas duplicadas e sem aquela craude no meio da pista, de modo que conseguimos manter uma velocidade média de 70Km por hora.
Chegamos em Agra à noite, e para minha surpresa era uma cidade bem mais pobre e caótica do que as que tinha conhecido até então. Achei curioso, pois em Agra é que fica o Taj Mahal, uma das sete maravilhas do mundo, e é muito visitada por turistas. Ram me explicou que deve ser questões políticas divergentes entre o estado e a união. Típico.
No hotel percebi um astral diferente em tudo. Primeiro, havia uma cerimônia de casamento acontecendo, mas uma ligeira diferença no formato, e na festa tocava música ocidental, inclusive eletrônica. As pessoas também não se vestiam de forma tão tradicional como em Jaipur. Percebi que era um local mais ocidentalizado.
No jantar decidi que iria quebrar o regime vegetariano e conhecer o tempero usado para carnes. Pedi carneiro com arroz, estava razoável, mas aquela quantidade de molho picante que não sei pra que tanto.
No dia seguinte Ram arrumou um guia e lá fomos conhecer o Taj Mahal. Para os que não conhecem os detalhes aquela coisa gigantesca toda em mármore branco é um mausoléu que o imperador construiu para sua ultra-amada esposa. Uma história linda e romântica, mas a verdade é que o cara gastou tanto dinheiro com o túmulo da esposa que acabou deixando um império falido pro filho. Aliás, já ouvi várias histórias de homens que quebraram por causa de mulher. Eita galerinha cara!
Tirei várias fotos sem muito ânimo, pois o sol estava escaldante. Visitamos também o Agra Fort, que atualmente é ocupado quase completamente pelo exército. No meio da visita pedi ao guia que fôssemos embora, pois já estava me sentindo mal com tanto calor.
Na sequência de visitas a um monumento histórico com um guia o que invariavelmente acontece? Eles nos levam pra uma loja de artesanatos para comprarmos, e assim eles ganham comissões. Neste caso era uma fabrica de peças em mármore branco com pedras semi-preciosas incrustradas formando figuras no mesmo padrão do Taj Mahal. E eu que fico fascinado com essas coisas minuciosamente bem trabalhadas acabei não resistindo e comprando um jogo de xadrez em pedra pra mim. Não consegui resistir, era muito lindo e eu fiquei imaginando que nunca mais voltaria ali, mas a verdade é que já estourei meu orçamento e não sei como vou fazer pra pagar tudo. Aqui vai uma dica para os que gostam de comprar e pensam em vir conhecer a Índia, nunca tragam cartões de crédito com limite alto, pois as coisas são muito lindas e baratas, e não dá pra resistir.
No final das contas acho que vou desistir da idéia de dar presentes para as pessoas. Melhor será abrir uma loja de artigos indianos e ver se assim consigo reduzir o prejuízo.
Por volta das 15h pegamos a estrada para Delhi, e mais 5 horas de viagem. Ram quis evitar o último trecho da auto-estrada e pegou uma menor que iria direto pra Gurgaon, nosso destino. Quando estávamos a 25Km de chegar em Gurgaon, passando por uma pequena cidade, o trânsito simplesmente parou. Olhei no mapa (sim, o google maps no celular tem nos salvado várias vezes) e estávamos a 50 metros de uma rotatória, lá deveria estar o problema. A gente foi seguindo a 100 metros por hora, e então resolvi descer pra ir ver o que estava acontecendo. Sabem qual era o motivo do trânsito ter parado?
Nenhum!
Elogiei há alguns dias atrás o fato da galera andar devagar e dar passagem de forma que o trânsito era lento mas andava, mas nos últimos dias acabei revendo minha posição. Ninguém respeita absolutamente nenhuma regra de trânsito! Ninguém respeita nenhum semáforo, ninguém sabe o significado da palavra via, e vi algumas vezes carros andando na contra-mão na auto-estrada, incluindo um ônibus!!!
A rotatória à frente havia travado por causa do grande fluxo, e porque quando a via está engarrafada a galera simplesmente joga o carro pra contra-mão pra tentar andar, ninguém tem paciência de ficar esperando. É mais do que óbvio que se você jogar seu carro na contra-mão na entrada de uma rotatória ela irá travar, mas ninguém estava nem aí. Tinha um policial tentando organizar o negócio, mas você acha que alguém fazia o que ele pedia? Ninguém tava nem aí pro policial, e Ram me comentou que quando um policial te pega fazendo algo de errado você dá 10 ou 20 rúpias que ele te libera. É tudo muito sem noção!
Conseguimos passar e pegar novamente a estrada, e logo chegamos em Gurgaon. Como não conseguimos achar um hotel decente acabei ficando na mesma guest-house do início, aquela bem desconfortável, mas agora, depois de tantos dias na Índia, o lugar me pareceu bem mais razoável.
Tomei um banho e saímos pra jantar. Não queria mais saber de comer a comida típica, nada mais de chapati com molho, queria algo gostoso e mais ocidental pro meu paladar. Peguei algumas sugestões no google e depois de muito procurar achamos um que se chamava Bernardo's Goan Cuisine. O nome soou atrativo pra mim, mas não pensei na hora. Entramos no restaurante, era bem pequenininho, no meio de um centro comercial, mas o ambiente estava apresentável, e a indicação falava que a comida era muito boa. Quando abri o cardápio e comecei a ler achei estranho, continuei lendo e percebi que o cardápio estava em ... português (!?!?!?).
Daí que liguei as coisas, era comida típica de Goa, a cidade que foi colonizada por portugueses, é tida como uma Miami da Índia, pois é o único lugar onde as mulheres usam bikini e existem praias de nudismo, bebida é à vontade, e onde nasceram as raves e o trance. As pessoas até falam que Goa não é Índia, é só um território anexado. Pois é gente, nunca tinha parado pra pensar, este oba-oba que é o Brasil é pura herança portuguesa.
Me senti em casa, peixe com molho, galinha cozida com leite de côco, sarapatel (!!!), pão de acompanhamento. Ah! Que alívio.
Só Ram que não gostou, pediu uma coisa lá vegetariana com arroz mas saiu procurando um lugar pra comer, falando que quando ele não come chapati é como se não tivesse jantado. Que nem meu pai com o feijão dele, roceiro é tudo igual, só gosta de comer a mesma coisa todo dia.

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