sexta-feira, 21 de maio de 2010

20 de maio - Palácio do Marajá e Lagwana

Saí por volta da 1h da tarde para ir visitar o Palácio do Marajá, no centro de Jaipur. Passamos pelas principais e mais antigas ruas do comércio do centro e pode notar todos os prédios pintados de um rosa avermelhado, e daí o nome da cidade Pink City.
No palácio vive o atual marajá, que embora não tenha mais poder político, nem título de nobreza, preserva ainda muito de sua riqueza e importância na vida social da cidade. Quer dizer, li uma história contando que os marajás tiveram um longo período de vida nabanesca, e daí, quando perderam seus títulos, acabaram ficando sem dinheiro para sustentar seu modo de vida. Outra pessoa falou que as taxas de comércio em Jaipur são de 30%, e esses impostos são para sustentar o marajá. Não sei se isto é exatamente verdade, mas a verdade é que o marajá construiu um museu numa das partes do seu palácio e abriu para visitação pública paga. Como Jaipur é uma cidade muito voltada para o turismo, esta com certeza foi uma boa estratégia. Tirei várias fotos do palácio, especialmente dos detalhes finamente trabalhados dos mármores e madeiras.
Numa sessão interna haviam dois gigantescos jarros de prata, tidos como os maiores objetos de prata do mundo. A gravação dizia que o marajá n.X mandou construir aqueles vasos porque ele era muito religioso, e queria sempre ter a água do sagrado Ganges para levar com ele, e por isto aqueles imensos jarros. Mas Lokesh e Bhupendra (que inclusive é da casta Rajput, dos antigos guerreiros e reis) falaram que aquele lá adorava era álcool mesmo, e aqueles jarros eram pra vinho. Achei mais provável. Todas as histórias que ouvi sobre os marajás são de vida nabanesca e muito sexo.
O calor estava insuportável, por volta dos 43 graus e muito seco. O ar seco daqui tem a vantagem de que pouco se sua, pra não falar que minha alergia praticamente sumiu, porém desidrata muito, e como não tenho muito costume de beber água, acabo sentindo às vezes uma leve dor de cabeça.
E por falar em água, é um costume muito presente aqui em todos os bares e restaurantes que chegamos os garçons trazerem água e colocar no copo, e durante o almoço sempre vai enchendo o copo de água. Vi também umas pequenas cabanas de palha na rua e me disseram que era para servir água para as pessoas que tivessem sede, e que era trabalho voluntário, caridade, e com certeza com algum cunho religioso. De modo que é perceptível que os hindus possuem uma forte relação com a água.
Ao sair do palácio Ram me indicou visitar o espaço que havia ao lado, o Jantar Mantar. É um grande espaço com vários instrumentos para observação astrológica/astronômica. Quando foi construído era o maior e mais completo do mundo. Comecei a andar por ali com o sol castigando na cabeça, comecei a me sentir mal, e saí tirando fotos a ermo e andando pra ir logo embora. Tomei água e suco e fui pro hotel descansar, não estou preparado para passar tanto tempo exposto neste clima desértico.
Dormi um pouco no hotel e por volta das 5h Lokesh apareceu para irmos para o Lagwana de Mayank. Ele queria me levar em outro lagwana, de um amigo próximo dele, que seria maior do que o de Mayank e em um lugar público, já que o de Mayank era em sua casa. Argumentei que tinha vindo aqui para o casamento de Mayank, que seria interessante conhecer outro, mas queria prestigiar o dele. Ele falou que naquele momento estava muito quente e que seria melhor aguardarmos um pouco pois a função (como eles chamam) seria um mais tarde, e pediu cervejas para tomarmos.
Ficamos tomando cerveja enquanto esperávamos a hora e daí ele falou que o evento de Mayank já tinha terminado. Não entendi bem, meu inglês falha várias vezes, mas fiquei observando. Quando saímos para passar na casa de Mayank já eram mais de 6h, e o sol já havia se posto. Lá chegando encontramos com Mayank em sua casa cheia de gente.
Mayank então reclamou que tínhamos chegado muito tarde, e que já tinha acabado, e pediu para subirmos para o terraço pois estávamos cheirando a cerveja, e ninguém poderia perceber que estávamos bebendo antes de uma cerimônia religiosa. Percebi então o que tinha acontecido e dedurei logo o bandido. "Foi ele, falou que era pra gente esperar no hotel porque o sol estava muito quente, e ficamos lá sem fazer nada, eu pronto ansioso por vir logo pra ver sua cerimônia, achando que ainda iria começar". Mayank ficou bem chateado e Lokesh meio envergonhado diante de minha atitude.
A festa de Mayank estava meio parada, em parte porque o principal já tinha acabado, e em parte porque tinha faltado energia (diariamente falta energia várias vezes no verão), e o pessoal estava somente esperando para o jantar. Tirei algumas fotos de Mayank, que estava com as mãos pintadas de hena, ficamos um pouco por ali, e saímos para a outra festa.
No carro Lokesh me pediu desculpas e ficou se justificando que ele tinha planejado me levar para a outra festa, que era em um lugar grande, com muitas pessoas, e que eu iria gostar, e que a festa de Mayank era muito pequena, em sua casa. Agradeci a preocupação dele, mas falei que era importante pra mim estar no casamento de Mayank, e que da próxima vez não viria mais com ele, viria sozinho, para garantir que não haveria contratempos.
Quando chegamos na outra festa entendi a preocupação de Lokesh. Era um espaço público para casamentos  super bem decorado e com total infra-estrutura. Tudo era muito colorido e bonito, havia um grande palco com uma banda e dançarinos, e uma grande área atrás com vários pontos onde se preparava as comidas na hora. Logo que chegamos encontramos com um amigo de Lokesh e Bhupendra, que eles comentaram ser da política local, muito importante, e que vestia aquela longa bata branca por ser o traje dos políticos.
Não sou capaz de lembrar o nome do político, mas ele me pegou pelo braço e saiu me mostrando toda a festa. Subimos no palco, ele me apresentou ao músico e falou que eu era do Brasil, daí fomos cumprimentar os noivos, que estavam belamente vestidos sentados em dois tronos e daí, quando estava tirando fotos com os noivos, comecei a ouvir a banda tocar Jingle-Bell (???). Olhei meio curioso para a banda e Bhupendra falou que eles estavam tocando aquilo para mim. Preferi não comentar, e agradeci ao músico.
Daí fomos andando pela parte das comidas e vi o pessoal preparando o chapati, a massa era cortada como um pão de hamburguer e daí o padeiro espalhava a mesma nas paredes de um grande pote aquecido por baixo. A massa assava na parede do pote, e daí ele retirava e servia.
Já o dal, um molho comum por aqui, era uma grande frigideira onde o cozinheiro ia jogando vários temperos, conhecidos da gente como cebola, tomate, pimentões, e daí cúrcuma e muita pimenta, depois jogava um caldo de ervilhas com alguns caroços inteiros e estava pronto.
Mais adiante tinha uns pastéis pequenos que o garçon pegava com a mão, abria um buraco com o dedão, e colocava um caldo que parecia conter gengibre dentro.
Por fim havia um que rodava um pedaço de gelo em uma máquina manual e colhia as raspas, daí outro prensava com os dedos as raspas em um copinho e enfiava um palito, em seguida ele desenformava o picolé instantâneo e molhava em duas caldas coloridas, uma vermelha e uma amarela, uma de cada lado do picolé, e nos dava em cima de um pratinho de papelão para ficarmos sugando o caldo gelado. Não pude deixar de observar também uma grande barra de gelo deitada no chão sobre a grama. Tenho deixado de lado os conceitos ocidentais de higiene para poder conhecer este mundo.
Em todos os pontos que íamos passando iam me dando pedaços e eu comendo, até que ao final do percurso já estava empanturrado. Contudo, sendo uma festa religiosa, bebidas alcoólicas neca, de modo que vi o pessoal me chamando pra sair e daí já imaginei "atrás de um bar para beber". O povo adora beber, especialmente Lokesh e Bhupendra, mas sempre precisam se deslocar para um lugar reservado, os poucos bares que podem vender cerveja.
Voltamos para a festa depois de duas cervejas e já estava bem vazia. Fomos então jantar, eu ainda empanturrado, e daí pro hotel dormir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário