quarta-feira, 26 de maio de 2010

25 de maio - Adeus Índia

Pois é gente, já passou da hora de voltar pra casa. A primeira coisa que fiz foi ir à loja da Lufthansa no aeroporto para tentar trocar a passagem. Tinha desdobrado a passagem de volta para passar 4 dias conhecendo Munique, mas além de ter achado Munique sem graça eu também já estourei meu orçamento e qualquer coisa na Europa é muito caro.
O atendente da Lufthansa me deu a má notícia de que não havia mais vaga no voo de Munique pra São Paulo no dia seguinte, mas disse que eu poderia pegar o voo à noite para Frankfurt e de lá direto pra São Paulo. Ótimo, muito melhor, não precisaria dormir de novo naquela pousada, sem internet, e ainda conheceria Frankfurt na passagem. Mudei na hora.
Lokesh chegou em Gurgaon e nos encontramos no final da tarde. Ficou surpreso com a ida repentina, mas entendeu a minha ansiedade. Saímos para beber a velha cerveja enquanto esperávamos a hora do voo. Ele saiu procurando um bar/restaurante movimentado, que tivesse mulheres pra ver, para me levar, mas não encontramos nada animado. Fomos em um que era meio bar, meio boite, e ficamos lá bebendo cerveja. Tinha só uma menina bem metralhada dançando sozinha na pista e olhando para os homens, achei com cara de profissional, mas Lokesh disse que deveria ser contratada do local para poder animar o povo a dançar. Ah se eles tivessem sido colonizados pelos portugueses ao invés dos ingleses...
Na viagem tive que fazer umas ginásticas com as bagagens, pois a mala estava com 40Kg e o limite máximo por volume era 32Kg. Depois disso embarquei e dormi a maior parte da viagem.
A única coisa bem desagradável da viagem foi que chegando em Frankfurt comecei a sentir cólicas. Oh não, aquele frango que comi no almoço com Ram naquele lugar meia boca devia estar passado. Tentei segurar o máximo que pude, pois o avião já estava no processo de pouso com os avisos de apertar cintos ligados. Mas nessas horas Murphy sempre atua pra nos facilitar a vida, e o aeroporto estava congestionado, de modo que teríamos que esperar uns 10 minutos para poder pousar. Eu tentei, tentei, suei frio, fiquei pálido, mas não dava mais pra segurar. Virei pra senhora indiana que estava ao lado tentando falar que eu estava doente, precisava levantar, me desculpe, mas ela não falou nada, apenas puxou as pernas pro lado, e assim também fez o senhor que estava na poltrona do corredor. Ok, esse povo da Índia acha normal a gente andar se esbarrando nos outros, mas eu não consigo sair de uma poltrona na janela com as outras pessoas sentadas, é muita proximidade pra mim. Me apoiei nas cadeiras e pulei por cima dos dois pro corredor, temendo que o esforço pudesse causar alguma catástrofe. Corri pro banheiro, a aeromoça falou que eu não podia levantar, falei pra ela que estava muito sick, sorry, sorry, e me meti no banheiro ouvindo ela falar que eu fazia aquilo por meu próprio risco. Ora pois, risco altíssimo seria não fazer aquilo, o povo iria querer pular pela janela do avião.
Pousei em Frankfurt dentro do banheiro, tudo tremendo ao redor, eu me segurando nas paredes, e o suor frio descendo pelo rosto e encharcando minha camisa. Dei descarga e lá se foi a lembrança da Índia.
Não preciso falar mais sobre a organização dos alemães. Vou contar somente que é um brutal choque de realidades. Enquanto na Índia enfrentava calor de 45 graus, um bilhão de pessoas vivendo na craude, poluição total, barulho infernal, trânsito caótico, e pobreza, em Frankfurt fazia 16 graus, poucas pessoas pelas ruas, silêncio total, e hiper-organização em tudo. É, vou pensar sobre o assunto alguns anos, até poder compreender um pouco sobre a Índia.
Já Frankfurt não tem muito o que se conhecer. Andei pela cidade antiga, tirei fotos, vi o Rio Main, e fiz algumas compras. Não sei se por ato costumeiro, ou porque raios, no almoço pedi uma salsicha com curry, e lá veio aquela salsicha com o tempero tipicamente indiano. Talvez uma forma intermediária de voltar ao mundo de antes.
Agora estou aqui aguardando o voo pra Guarulhos, e logo na sequência parto pra Salvador, para matar as saudades de Pedrinho. Tomara que dê tudo certo, sem episódios intestinais desta vez.

23 e 24 de maio - Agra e Taj Mahal

Após ter acontecido o casamento de Mayank fiquei com a sensação de missão cumprida, e bateu uma enorme vontade de voltar para casa. Sim, o casamento foi a principal justificativa para esta viagem, e depois de passar tanto tempo longe do trabalho e da rotina eu já estava bastante incomodado. Além disso já eram 9 dias em uma única cidade, e descobri também que me atrapalhei e trouxe uma dose inferior do meu remedinho da tireóide, o que invariavelmente me deixa extremamente sem paciência. (hummm entendi algumas coisas...)
Neste domingo não iria ter mais nenhum evento formal, apenas haveria um evento para os amigos, Lokesh me comentou que os amigos mais próximos iriam à casa de Mayank para enfeitar o quarto dele para a noite de núpcias, pois é, a galera tem que descansar um dia após a festa do casamento pra poder ter uma noite de núpcias decente.
O plano tinha sido ficar este domingo em Jaipur, partir pra conhecer Agra na segunda, e na terça ir pra Delhi, para pegar o voo quarta de manhã. Contudo eu já não queria mais ficar parado de jeito nenhum, e a vontade de me mover estava incontível. Então decidi que iria no domingo mesmo pra Agra, e na segunda pra Delhi, e assim já estaria mais perto de casa. Lokesh ficou um pouco desapontado, mas expliquei a ele que já estava muitos dias longe de casa, estava ansioso por partir.
Usei todas minhas habilidades de montar quebra-cabeças e consegui empacotar tudo na mala, ficando apenas com uma mochila e uma maleta de notebook pra carregar na mão. Então chamai Ram e pegamos a estrada.
As rodovias que saem de Jaipur são bem melhores do que aquelas que pegamos pro norte. Todas duplicadas e sem aquela craude no meio da pista, de modo que conseguimos manter uma velocidade média de 70Km por hora.
Chegamos em Agra à noite, e para minha surpresa era uma cidade bem mais pobre e caótica do que as que tinha conhecido até então. Achei curioso, pois em Agra é que fica o Taj Mahal, uma das sete maravilhas do mundo, e é muito visitada por turistas. Ram me explicou que deve ser questões políticas divergentes entre o estado e a união. Típico.
No hotel percebi um astral diferente em tudo. Primeiro, havia uma cerimônia de casamento acontecendo, mas uma ligeira diferença no formato, e na festa tocava música ocidental, inclusive eletrônica. As pessoas também não se vestiam de forma tão tradicional como em Jaipur. Percebi que era um local mais ocidentalizado.
No jantar decidi que iria quebrar o regime vegetariano e conhecer o tempero usado para carnes. Pedi carneiro com arroz, estava razoável, mas aquela quantidade de molho picante que não sei pra que tanto.
No dia seguinte Ram arrumou um guia e lá fomos conhecer o Taj Mahal. Para os que não conhecem os detalhes aquela coisa gigantesca toda em mármore branco é um mausoléu que o imperador construiu para sua ultra-amada esposa. Uma história linda e romântica, mas a verdade é que o cara gastou tanto dinheiro com o túmulo da esposa que acabou deixando um império falido pro filho. Aliás, já ouvi várias histórias de homens que quebraram por causa de mulher. Eita galerinha cara!
Tirei várias fotos sem muito ânimo, pois o sol estava escaldante. Visitamos também o Agra Fort, que atualmente é ocupado quase completamente pelo exército. No meio da visita pedi ao guia que fôssemos embora, pois já estava me sentindo mal com tanto calor.
Na sequência de visitas a um monumento histórico com um guia o que invariavelmente acontece? Eles nos levam pra uma loja de artesanatos para comprarmos, e assim eles ganham comissões. Neste caso era uma fabrica de peças em mármore branco com pedras semi-preciosas incrustradas formando figuras no mesmo padrão do Taj Mahal. E eu que fico fascinado com essas coisas minuciosamente bem trabalhadas acabei não resistindo e comprando um jogo de xadrez em pedra pra mim. Não consegui resistir, era muito lindo e eu fiquei imaginando que nunca mais voltaria ali, mas a verdade é que já estourei meu orçamento e não sei como vou fazer pra pagar tudo. Aqui vai uma dica para os que gostam de comprar e pensam em vir conhecer a Índia, nunca tragam cartões de crédito com limite alto, pois as coisas são muito lindas e baratas, e não dá pra resistir.
No final das contas acho que vou desistir da idéia de dar presentes para as pessoas. Melhor será abrir uma loja de artigos indianos e ver se assim consigo reduzir o prejuízo.
Por volta das 15h pegamos a estrada para Delhi, e mais 5 horas de viagem. Ram quis evitar o último trecho da auto-estrada e pegou uma menor que iria direto pra Gurgaon, nosso destino. Quando estávamos a 25Km de chegar em Gurgaon, passando por uma pequena cidade, o trânsito simplesmente parou. Olhei no mapa (sim, o google maps no celular tem nos salvado várias vezes) e estávamos a 50 metros de uma rotatória, lá deveria estar o problema. A gente foi seguindo a 100 metros por hora, e então resolvi descer pra ir ver o que estava acontecendo. Sabem qual era o motivo do trânsito ter parado?
Nenhum!
Elogiei há alguns dias atrás o fato da galera andar devagar e dar passagem de forma que o trânsito era lento mas andava, mas nos últimos dias acabei revendo minha posição. Ninguém respeita absolutamente nenhuma regra de trânsito! Ninguém respeita nenhum semáforo, ninguém sabe o significado da palavra via, e vi algumas vezes carros andando na contra-mão na auto-estrada, incluindo um ônibus!!!
A rotatória à frente havia travado por causa do grande fluxo, e porque quando a via está engarrafada a galera simplesmente joga o carro pra contra-mão pra tentar andar, ninguém tem paciência de ficar esperando. É mais do que óbvio que se você jogar seu carro na contra-mão na entrada de uma rotatória ela irá travar, mas ninguém estava nem aí. Tinha um policial tentando organizar o negócio, mas você acha que alguém fazia o que ele pedia? Ninguém tava nem aí pro policial, e Ram me comentou que quando um policial te pega fazendo algo de errado você dá 10 ou 20 rúpias que ele te libera. É tudo muito sem noção!
Conseguimos passar e pegar novamente a estrada, e logo chegamos em Gurgaon. Como não conseguimos achar um hotel decente acabei ficando na mesma guest-house do início, aquela bem desconfortável, mas agora, depois de tantos dias na Índia, o lugar me pareceu bem mais razoável.
Tomei um banho e saímos pra jantar. Não queria mais saber de comer a comida típica, nada mais de chapati com molho, queria algo gostoso e mais ocidental pro meu paladar. Peguei algumas sugestões no google e depois de muito procurar achamos um que se chamava Bernardo's Goan Cuisine. O nome soou atrativo pra mim, mas não pensei na hora. Entramos no restaurante, era bem pequenininho, no meio de um centro comercial, mas o ambiente estava apresentável, e a indicação falava que a comida era muito boa. Quando abri o cardápio e comecei a ler achei estranho, continuei lendo e percebi que o cardápio estava em ... português (!?!?!?).
Daí que liguei as coisas, era comida típica de Goa, a cidade que foi colonizada por portugueses, é tida como uma Miami da Índia, pois é o único lugar onde as mulheres usam bikini e existem praias de nudismo, bebida é à vontade, e onde nasceram as raves e o trance. As pessoas até falam que Goa não é Índia, é só um território anexado. Pois é gente, nunca tinha parado pra pensar, este oba-oba que é o Brasil é pura herança portuguesa.
Me senti em casa, peixe com molho, galinha cozida com leite de côco, sarapatel (!!!), pão de acompanhamento. Ah! Que alívio.
Só Ram que não gostou, pediu uma coisa lá vegetariana com arroz mas saiu procurando um lugar pra comer, falando que quando ele não come chapati é como se não tivesse jantado. Que nem meu pai com o feijão dele, roceiro é tudo igual, só gosta de comer a mesma coisa todo dia.

22 de maio - Casamento de Mayank

A programação de atividades para todo o sábado era de acompanhar o casamento de Mayank, pois este era o dia dos principais eventos.
Não consegui acordar muito cedo por conta de ter ficado no computador escrevendo e ter ido dormir bem tarde, de forma que acabei perdendo a primeira cerimônia do dia. Mayank me explicou que ele ficava só de shorts e então vários familiares, pai, mãe, irmão, tios e tias, passavam óleos e bálsamos nele, e depois davam um banho de leite, um tipo de ritual para purificar o corpo e a alma. Ele ficou de me mandar algumas fotos para eu postar no blog.
Depois disto começava o bahat. Na lagwana do dia 20 vinham os parentes da noiva para dar a ele presentes, sendo que os parentes dele iam presentear a noiva, no bahat era a vez dos parentes dele virem dar presentes a ele. Havia uma grande quantidade de pessoas, e Mayank comentou que várias delas ele não conhecia, eram parentes da mãe e pai dele que tinham vindo de outras cidades e que ele nunca tinha encontrado antes. Muitos eram por parte do tio-avô dele, que tinha tido um sem número de filhos.
Todos demonstravam muita alegria e felicidade, cantavam e dançavam, e teve também uma sessão de bençãos onde se pinta aquele sinal no meio da testa.
Após esta parte saí com Lokesh para comprar um presente, pois até agora não tinha ideia do que iria  dar de presente e Mayank não tinha me dito do que estava precisando. Vi que muitos familiares davam dinheiro, mas achei muito impessoal, então Lokesh falou que ouro é muito auspicioso, e lá fomos comprar um bracelete de ouro.
Jaipur é famosa pela produção de jóias, e existem várias joalherias pela cidade. Fomos em uma específica para ouro, pois muitas só trabalham com pedras, e escolhemos um belo bracelete para ele.
Depois fomos a uma loja comprar uma roupa típica para eu ir ao casamento. Esqueci o nome da peça, mas é uma grande bata com o colarinho enfeitado. Preferi uma branca, leve, por conta do calor, e Lokesh tinha uma idêntica, de forma que fomos que nem time de futebol.
É claro que antes de irmos para festa Lokesh e Buphendra precisavam passar em um bar para tomarem cerveja, já que na festa não poderiam beber nada, e queriam dançar muito. Os bares aqui, além de só terem homens, são fechados e escuros, meio como um pub, mas sem nenhuma decoração particular, e sempre uma TV ligada passando canais abertos. Meio como um lugar onde o povo vai somente pra consumir álcool.
Chegando na festa trocamos de roupa e fomos acompanhar o barat. Inicialmente acontecia uma parte onde Mayank ficava sentado recebendo vários presentes, e depois uma espécie de parada sobre um cavalo. Vi várias dessas paradas pela cidade, o noivo, todo paramentado, sobre um cavalo também bastante enfeitado com peças brilhantes, desfila durante cerca de 2 horas acompanhado por uma banda e um conjunto de pessoas segurando lustres, ligados por fios, que funciona como uma espécie de corda de bloco com todos os convidados dentro dançando ao som da banda.
Mayank, todo paramentado e sério apenas observava as pessoas se divertindo. Curioso, só os amigos do noivo é que se divertem, enquanto o noivo só sofre embaixo de uma pesada roupa.
A dança era bem no estilo folclórico, sem nenhuma sofisticação. Os homens dançavam uns com os outros, e as mulheres idem, de modo que eram grupos separados, só eventualmente que um homem já mais velho dançava com sua esposa ou filhas. Não me sinto à vontade de dançar com homens, mas diante de muita insistência ensaiei alguns passos me sentindo bastante sem jeito, especialmente quando um dos conhecidos, como Lokesh ou outros, ficava dançando pra mim rebolando com o dedinho no canto da boca. Melhor não comentar.
Eventualmente algum homem tirava uma cédula de dinheiro do bolso e ficava balançando no alto circulando sobre as cabeças dos demais, e logo vinha alguém da banda e pegava o dinheiro. Dentro do ritual aquilo era como abençoar os outros, e para a banda era uma gorda gorjeta.
Depois de darmos uma volta no quarteirão voltamos ao espaço da festa. Acho que não tinha comentado, mas estes rituais maiores não foram na casa de Mayank, mas sim em um espaço próprio para casamentos, que tem inclusive duas alas de quartos para as famílias do noivo e da noiva, para alojamento durante os dias da festa. O local era gramado e muito bem decorado, com um grande palco em um dos lados onde ficavam dois tronos para os noivos, e várias bancas com pessoas preparando e servindo comida. No final desta festa houve um jantar para os mais próximos da família, sentei à mesa em consideração, mas não consegui comer mais nada de tão cheio que já estava.
Quando eu pensei que já tinha acabado fui surpreendido com a notícia que era naquele momento que iria começar o casamento propriamente dito. Era a cerimônia formal de casamento, onde eram feitos os votos e o casamento consumado por monges.
Havia dois monges hindus, num pequeno espaço, e ali sentavam também Mayank com a noiva, e os pais da noiva. Os pais de Mayank somente assistiam e Lokesh me comentou que a simbologia era que os pais da noiva estavam ali entregando a filha para Mayank, e portanto eles é que tinham papel ativo na cerimônia.
Não entendia exatamente o que estava sendo feito, mas os monges cantavam uma ladainha constantemente enquanto iam eles e os outros jogando pétalas de flores e outras coisas num montinho de terra decorado que havia no centro.
Lokesh falou que depois, por volta das 3h da manhã, ia começar a cerimônia do fogo, onde seriam acesos 7 círculos de fogo. Não consegui ficar pra ver esta parte, já estava pra lá de cansado. Depois peço as fotos pra Mayank para matar a curiosidade.

domingo, 23 de maio de 2010

21 de maio - Amber Fort e Chokhi Dhani

Acordei cedo para irmos conhecer o Amber Fort, pois tinha o interesse de subir a colina de elefante, e como o calor está muito forte isto só pode acontecer de manhã cedo.
O forte é uma enorme construção na colina e era o palácio dos primeiros 3 marajás, e ao lado fica a antiga cidade de Amer, onde residiam os artesãos do reino. A construção no alto facilitava a defesa contra invasões. Depois que foi construído o palácio e a cidade de Jaipur, na planícies entre largos morros.
Havia um grupo de espanhóis visitando o local e a subida estava bastante cheia. Uma grande quantidade de vendedores ambulantes ofereciam insistentemente souvenires a preços bem inflacionados. Como eu tenho cara de indiano ele não me amolavam tanto, e Ram sempre interferia falando em hindi quando um ou outro começava a chatear. Os espanhóis não tinham tanta sorte.
Para montar no elefante havia uma plataforma elevada, visto que o berço onde a gente viaja em cima do elefante fica a mais de 2 metros de altura. O elefante se aproxima e a gente entra no pequeno berço, com uma ou duas pessoas, para subir a colina. Como Ram é bem descolado ele conseguiu que eu fosse sozinho no berço, especialmente porque à minha frente tinha uma senhora espanhola do tipo bem extravagante, super assediada pelos ambulantes, e eu não queria ir com ele de jeito nenhum.
Andar de elefante não é lá confortável, o berço balança bastante de um lado pro outro, mas é uma experiência fantástica estar a 2,5 metros de altura em cima de um animal gigante.
Chegando ao forte Ram me indicou um guia, que se mostrou muito gente boa e falou várias coisas interessantes sobre o forte. São 3 palácios juntos, cada um morada de um marajá. O primeiro, mais antigo, tinha 12 esposas, e 36 concubinas. O segundo, o mais decorado, tinha 2 esposas e umas 11 concubinas, e o terceiro, o mais moderno, tinha 8 esposas e umas 20 concubinas. Fiquei invejando muito aqueles marajás, mas observei que o palácio mais rico em detalhes era o segundo, que tinha menos mulheres, e daí fiquei pensando que ou o cara era meio viado ou então a grande verdade é que se você tem muitas mulheres então não vai sobrar dinheiro nenhum pra gastar com suas propriedades.
Deixarei as fotos falarem do palácio por mim, só vou acrescentar que havia apenas um templo no palácio, dedicado a Kali, ela é esposa de Shiva, deus da construção e destruição, e é uma deusa associada a guerra e morte, trajando um enorme colar feito de cabeças de homens. Achei muito curioso a guerra ser associada a uma deusa feminina, e não a um masculino, como o Marte romano. Material bom para minhas reflexões lisérgicas.
De lá o guia me levou no conjunto de lojas para turistas da cidade de Amer, comentando que lá é que existem os melhores artesãos da região, muito tradicionais, e os melhores tapetes da Índia, com a vantagem de serem muito mais baratos do que Jaipur, pois não tem impostos para produção de artesanato manual lá. Bem, vou só comentar que o vendedor era tão bom, e a qualidade do tapete me impressionou tanto, que não consegui resistir e comprei um. Não sei onde vou usar, já que nem casa tenho, mas sei que é daqueles que duram 50 anos tranquilamente.
À noite Lokesh e Bhupendra me levaram para conhecer a cidade histórica de Chokhi Dhani, quer dizer, eu achava que era uma cidade histórica, mas chegando lá vi que era mais um parque temático, construído para turismo mostrando os antigos ambientes e tradições do Rajastão, incluindo as comidas típicas. O ambiente era muito bem cuidado, com muitos turistas da região mesmo, e várias atividades pra família. Aproveitei para dar uma volta de camelo e tirar várias fotos.
Uma coisa quero registrar aqui sobre Lokesh e Bhupendra, todas as vezes que vamos sair pra qualquer lugar a primeira coisa a fazer é ir a um bar tomar cerveja. Todas as vezes eles vão antes para um bar beber, e depois que vão para o lugar em questão, já que só os bares é que vendem regularmente cerveja, alguns restaurantes vendem, mas a maioria não, e nenhum evento ou festa permite que se beba nada alcoólico. Que diferença pra nossa cultura alcoólatra!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

20 de maio - Palácio do Marajá e Lagwana

Saí por volta da 1h da tarde para ir visitar o Palácio do Marajá, no centro de Jaipur. Passamos pelas principais e mais antigas ruas do comércio do centro e pode notar todos os prédios pintados de um rosa avermelhado, e daí o nome da cidade Pink City.
No palácio vive o atual marajá, que embora não tenha mais poder político, nem título de nobreza, preserva ainda muito de sua riqueza e importância na vida social da cidade. Quer dizer, li uma história contando que os marajás tiveram um longo período de vida nabanesca, e daí, quando perderam seus títulos, acabaram ficando sem dinheiro para sustentar seu modo de vida. Outra pessoa falou que as taxas de comércio em Jaipur são de 30%, e esses impostos são para sustentar o marajá. Não sei se isto é exatamente verdade, mas a verdade é que o marajá construiu um museu numa das partes do seu palácio e abriu para visitação pública paga. Como Jaipur é uma cidade muito voltada para o turismo, esta com certeza foi uma boa estratégia. Tirei várias fotos do palácio, especialmente dos detalhes finamente trabalhados dos mármores e madeiras.
Numa sessão interna haviam dois gigantescos jarros de prata, tidos como os maiores objetos de prata do mundo. A gravação dizia que o marajá n.X mandou construir aqueles vasos porque ele era muito religioso, e queria sempre ter a água do sagrado Ganges para levar com ele, e por isto aqueles imensos jarros. Mas Lokesh e Bhupendra (que inclusive é da casta Rajput, dos antigos guerreiros e reis) falaram que aquele lá adorava era álcool mesmo, e aqueles jarros eram pra vinho. Achei mais provável. Todas as histórias que ouvi sobre os marajás são de vida nabanesca e muito sexo.
O calor estava insuportável, por volta dos 43 graus e muito seco. O ar seco daqui tem a vantagem de que pouco se sua, pra não falar que minha alergia praticamente sumiu, porém desidrata muito, e como não tenho muito costume de beber água, acabo sentindo às vezes uma leve dor de cabeça.
E por falar em água, é um costume muito presente aqui em todos os bares e restaurantes que chegamos os garçons trazerem água e colocar no copo, e durante o almoço sempre vai enchendo o copo de água. Vi também umas pequenas cabanas de palha na rua e me disseram que era para servir água para as pessoas que tivessem sede, e que era trabalho voluntário, caridade, e com certeza com algum cunho religioso. De modo que é perceptível que os hindus possuem uma forte relação com a água.
Ao sair do palácio Ram me indicou visitar o espaço que havia ao lado, o Jantar Mantar. É um grande espaço com vários instrumentos para observação astrológica/astronômica. Quando foi construído era o maior e mais completo do mundo. Comecei a andar por ali com o sol castigando na cabeça, comecei a me sentir mal, e saí tirando fotos a ermo e andando pra ir logo embora. Tomei água e suco e fui pro hotel descansar, não estou preparado para passar tanto tempo exposto neste clima desértico.
Dormi um pouco no hotel e por volta das 5h Lokesh apareceu para irmos para o Lagwana de Mayank. Ele queria me levar em outro lagwana, de um amigo próximo dele, que seria maior do que o de Mayank e em um lugar público, já que o de Mayank era em sua casa. Argumentei que tinha vindo aqui para o casamento de Mayank, que seria interessante conhecer outro, mas queria prestigiar o dele. Ele falou que naquele momento estava muito quente e que seria melhor aguardarmos um pouco pois a função (como eles chamam) seria um mais tarde, e pediu cervejas para tomarmos.
Ficamos tomando cerveja enquanto esperávamos a hora e daí ele falou que o evento de Mayank já tinha terminado. Não entendi bem, meu inglês falha várias vezes, mas fiquei observando. Quando saímos para passar na casa de Mayank já eram mais de 6h, e o sol já havia se posto. Lá chegando encontramos com Mayank em sua casa cheia de gente.
Mayank então reclamou que tínhamos chegado muito tarde, e que já tinha acabado, e pediu para subirmos para o terraço pois estávamos cheirando a cerveja, e ninguém poderia perceber que estávamos bebendo antes de uma cerimônia religiosa. Percebi então o que tinha acontecido e dedurei logo o bandido. "Foi ele, falou que era pra gente esperar no hotel porque o sol estava muito quente, e ficamos lá sem fazer nada, eu pronto ansioso por vir logo pra ver sua cerimônia, achando que ainda iria começar". Mayank ficou bem chateado e Lokesh meio envergonhado diante de minha atitude.
A festa de Mayank estava meio parada, em parte porque o principal já tinha acabado, e em parte porque tinha faltado energia (diariamente falta energia várias vezes no verão), e o pessoal estava somente esperando para o jantar. Tirei algumas fotos de Mayank, que estava com as mãos pintadas de hena, ficamos um pouco por ali, e saímos para a outra festa.
No carro Lokesh me pediu desculpas e ficou se justificando que ele tinha planejado me levar para a outra festa, que era em um lugar grande, com muitas pessoas, e que eu iria gostar, e que a festa de Mayank era muito pequena, em sua casa. Agradeci a preocupação dele, mas falei que era importante pra mim estar no casamento de Mayank, e que da próxima vez não viria mais com ele, viria sozinho, para garantir que não haveria contratempos.
Quando chegamos na outra festa entendi a preocupação de Lokesh. Era um espaço público para casamentos  super bem decorado e com total infra-estrutura. Tudo era muito colorido e bonito, havia um grande palco com uma banda e dançarinos, e uma grande área atrás com vários pontos onde se preparava as comidas na hora. Logo que chegamos encontramos com um amigo de Lokesh e Bhupendra, que eles comentaram ser da política local, muito importante, e que vestia aquela longa bata branca por ser o traje dos políticos.
Não sou capaz de lembrar o nome do político, mas ele me pegou pelo braço e saiu me mostrando toda a festa. Subimos no palco, ele me apresentou ao músico e falou que eu era do Brasil, daí fomos cumprimentar os noivos, que estavam belamente vestidos sentados em dois tronos e daí, quando estava tirando fotos com os noivos, comecei a ouvir a banda tocar Jingle-Bell (???). Olhei meio curioso para a banda e Bhupendra falou que eles estavam tocando aquilo para mim. Preferi não comentar, e agradeci ao músico.
Daí fomos andando pela parte das comidas e vi o pessoal preparando o chapati, a massa era cortada como um pão de hamburguer e daí o padeiro espalhava a mesma nas paredes de um grande pote aquecido por baixo. A massa assava na parede do pote, e daí ele retirava e servia.
Já o dal, um molho comum por aqui, era uma grande frigideira onde o cozinheiro ia jogando vários temperos, conhecidos da gente como cebola, tomate, pimentões, e daí cúrcuma e muita pimenta, depois jogava um caldo de ervilhas com alguns caroços inteiros e estava pronto.
Mais adiante tinha uns pastéis pequenos que o garçon pegava com a mão, abria um buraco com o dedão, e colocava um caldo que parecia conter gengibre dentro.
Por fim havia um que rodava um pedaço de gelo em uma máquina manual e colhia as raspas, daí outro prensava com os dedos as raspas em um copinho e enfiava um palito, em seguida ele desenformava o picolé instantâneo e molhava em duas caldas coloridas, uma vermelha e uma amarela, uma de cada lado do picolé, e nos dava em cima de um pratinho de papelão para ficarmos sugando o caldo gelado. Não pude deixar de observar também uma grande barra de gelo deitada no chão sobre a grama. Tenho deixado de lado os conceitos ocidentais de higiene para poder conhecer este mundo.
Em todos os pontos que íamos passando iam me dando pedaços e eu comendo, até que ao final do percurso já estava empanturrado. Contudo, sendo uma festa religiosa, bebidas alcoólicas neca, de modo que vi o pessoal me chamando pra sair e daí já imaginei "atrás de um bar para beber". O povo adora beber, especialmente Lokesh e Bhupendra, mas sempre precisam se deslocar para um lugar reservado, os poucos bares que podem vender cerveja.
Voltamos para a festa depois de duas cervejas e já estava bem vazia. Fomos então jantar, eu ainda empanturrado, e daí pro hotel dormir.

18 e 19 de maio - Working

Na terça e quarta as atividades foram mais voltadas para o trabalho, e as discussões sobre como podemos montar uma parceria, com eventuais saídas para almoçar e jantar. Tenho observado com cuidado como é o estilo de trabalho dos indianos. A princípio temos uma mão de obra barata, com muitas pessoas bem formadas, e um grupo bastante inteligente. Por outro lado vemos a característica pacífica e conformista relacionada à cultura que faz com que todos trabalhem com bastante foco, mas sem muitas ambições, e portanto sem muita gana pelo trabalho. Já ouvi também um comentário de que o indiano em geral não é muito criativo pra software, é mais procedural, mas isto terei que ver na prática para ver se é verdade. Não é uma cultura que favoreça muito os artistas, mas não dá pra saber dessas coisas sem conhecer.
Outro assunto que tenho observado bastante é o sistema de castas. Quando perguntei da primeira vez o sobrenome de Ram e de Lokesh eles responderam Vishnoi e Agarwal respectivamente. Só depois descobri que este era na verdade os nomes das castas deles, e não os sobrenomes. Comumente ouvimos falar sobre as castas como a definição da posição da pessoa dentro da hierarquia social, e aqui me contaram que originalmente existiam 4 níveis de castas, os governantes/guerreiros, os sacerdotes/homens de conhecimento, os comerciantes/agricultores e os artesãos/serviçais, depois viriam os de serviços inferiores/excluídos. Contudo, explicam que hoje em dia este sistema já não importa mais, existindo apenas 2 níveis, os que têm dinheiro e os excluídos.
Mas a coisa não é tão simples assim. Primeiro que todas as pessoas da família costumam viver juntas na mesma casa, segundo que avós, tios, tias, primos, incluindo segundo e terceiros graus, são considerados família também, podendo viver na mesma casa, ou na mesma rua, mas sempre próximos, de modo que é como se a família fosse o primeiro grau de casta, e daí as outras pessoas da mesma casta acabam sendo parentes em algum sentido. E se formos considerar que os casamentos só costumam ocorrer dentro da mesma casta então acabam sendo mesmo parentes.
Assim, podemos considerar a casta como uma espécie de tribo, onde as várias pessoas compartilham de várias características comuns, como genética, e daí são parecidos e tendem a ter os mesmos talentos inatos, são devotos de um mesmo Deus, e possuem o mesmo escolhido guru para guiar suas ações, este guru define um conjunto de crenças, valores, costumes e códigos que todos seguem, e eles acabam se especializando em uma determinada atividade, e assim se ajudando mutuamente a crescer, acabando por tornarem especialistas naquilo.
Funciona como uma grande família, e as pessoas falam de suas castas com orgulho. Casamentos com pessoas de outras castas costumam ser bastante criticados, e sair de uma casta para ir para outra, ainda que possível, é considerado uma grande traição ao grupo, e nesta situação a pessoa perde todos os amigos, pra não falar que não irá fazer facilmente amigos na nova casta, já que é um imigrante.
A discriminação ocorre como em todo lugar, e pude perceber, embora não de forma explícita nem nunca violenta, a postura de arrogância adotada por pessoas das castas superiores com aqueles que são serviçais, e igualmente notei a postura de subserviência das pessoas serviçais para comigo e com os outros.
Continuo a observar sem julgar se é certo ou não, e sei também que as pessoas com quem tenho interagido não se proclamam superiores a ninguém, até porque a religião hindu é muito centrada no desenvolvimento pessoal, e acho difícil que haja ali espaço para que alguém possa se proclamar superior a outro, pois perante aos deuses todos são iguais em sua inferioridade, no seu caminho para a superação da sansara e fim do ciclo de reencarnação.
Contudo a Índia é um país jovem quando falamos em democracia. O governo tem feito muito pelo desenvolvimento do país e tudo tem se desenvolvido muito rapidamente. Com o crescimento do ensino público e o desenvolvimento da educação da população acredito que muito do que existe hoje no sistema de castas venha a se dissipar nas próximas gerações.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

17 de maio - Meeting

A farra estava boa mas agora é hora de voltar ao trabalho. Mayank e Lokesh organizaram uma reunião com algumas pessoas da empresa deles, a IGM, para eu falar sobre a ITIn e discutirmos sobre oportunidades de parcerias, e assim levamos o dia inteiro.
Um detalhe que me chamou atenção no almoço foi que um dos participantes, Bhupendra, não iria comer. Perguntei porque e ele respondeu que segunda-feira é o dia de jejum dele, pois é devoto de Shiva. A religião hindu é plena de códigos de conduta sobre várias coisas, incluindo regras de alimentação. No caso de Bhupendra, a família dele não é vegetariana, mas jejua toda segunda-feira para purificar o corpo, Lokesh é vegetariano, mas só não pode beber álcool nas terças, e Atul jejua nas terças. Como existe uma pluralidade de deuses e gurus então imagino que existam várias diferenças nos códigos de conduta.
À noite Bhupendra e Lokesh passaram no hotel para sairmos para jantar. Me levaram em um lugar bastante moderno, com uma decoração de ótimo gosto que misturava elementos locais com modernidade européia. Tocava música eletrônica, coisas como electro e techno, e havia um público jovem no local.
Foi a primeira vez que vi mulheres em um bar, e algumas estavam bebendo e fumando, e vestidas com roupas ocidentais. Lokesh comentou que não eram todas de Jaipur, a maioria era de outras cidades e estavam lá a passeio. A idéia é que estando fora de sua cidade natal as pessoas se dão mais liberdade para fazer coisas que a família/religião proibem. Lokesh, por exemplo, bebe cerveja e fuma (em pequena quantidade), mas nunca bebeu ou fumou perante os pais, e segundo ele os pais nunca souberam. Fala que age assim em respeito à família, e valoriza muito isto. Mayank e Bhupendra agem da mesma maneira.
Bhupendra contou que a paixão deles é pegar o carro e sair viajando pela Índia. Eles são amigos de infância e adoram viajar juntos, pegam o carro, várias latas de cerveja, e vão bebendo muito enquanto dirigem milhares de kilômetros em alta velocidade. Tentei explicar que beber é legal, viajar mais ainda, mas viajar bêbado em alta velocidade é suicídio. Eles não deram muita bola.
Pelo que estou entendendo a cultura hindu é extremamente centrada na família e na religião. Todo mundo aqui vive na casa dos pais, e quando casam a esposa vai morar na mesma casa. Bhupendra contou que na casa dele moram 36 pessoas, e Lokesh mora com a família inteira na mesma casa, e vários tios e primos na mesma rua. Tenho visto que toda a casta acaba convivendo muito junta, e desta forma constantemente vigiando e replicando o código religioso. De forma que a cultura hindu não apenas reprime o hedonismo que consome a energia das pessoas, como é o caso das religiões judaico-cristãs, mas também promove um sistema bastante eficiente para afastar as pessoas dos desejos, de modo que não haja muito espaço para as "tentações do demo". Acredito que até a comida funcione neste sentido, pois a ausência de carne, comidas energéticas, bebidas, e temperos afrodisíacos deixa as pessoas em um estado bem pacífico e tranquilo, e assim os desejos pelo prazer são apaziguados e a mente foca em uma vida de paz de espírito.
Falo isto pois tenho começado a me sentir assim com esta abstinência de carne, comendo somente comida indiana, e bebendo no máximo 2 cervejas e já me sentindo tonto. Quando fomos pedir coisas pra comer senti meu corpo bastante fraco, e um desejo profundo de comer um suculento bife. Havia a possibilidade de pedir frango ou carneiro, mas decidi que iria manter meu plano até o limite. A única coisa que me preocupa é que estou me sentindo também meio broxa, mas como não há a mínima possibilidade de estar com uma mulher aqui isto não é nenhum problema. Só espero que os efeitos sejam reversíveis.
Pois é, meu plano de voltar para o Brasil casado com uma indiana está impossível de acontecer. Casamento aqui só com junção das famílias, depois de uns 10 anos de namoro. Pra não falar que a grande maioria das mulheres só querem casar virgens, e daí não dá pra fazer um test-drive pra saber se a química bate. Mulher indiana nem a dinheiro, pois aqui a atividade mantenedora dos casamentos no Brasil é proibida, seriamente combatida pela polícia. Não dá nem pra dizer que assim os caras acabam virando gay, pois a prática da homosexualidade é também proibida, e passível de 10 anos de prisão.
Bem, ficamos lá conversando e depois chegaram outros amigos de Bhupendra que vieram de Hydebarad, que é uma cidade próxima a Bangalore, e chamada de Vale do Silício indiano, por conta da grande quantidade de empresas de tecnologia lá instaladas. Havia 3 meninas com o pessoal, estas vestidas em roupas indianas, mas não duraram lá mais do que 10 minutos, de modo que não dava nem pra aproveitar o colírio para os olhos. É... acho que eu não me daria bem morando na Índia.