quarta-feira, 19 de maio de 2010

15 de maio - Jaipur

Acordei por volta do meio dia com o telefonema de Lokesh. Ele e Mayank vieram me visitar, e finalmente encontrei com meu anfitrião.
Mayank anda um pouco apreensivo e bastante ocupado com os preparativos do casamento. Como muita gente já ouviu falar, casamento aqui na Índia é um evento de grandes proporções, que dura vários dias. Pelo que entendi começa 4 dias antes, com uma série de eventos acontecendo com o noivo, e com a noiva, mas então separados um do outro, cada um em sua respectiva casa. Daí, no quinto dia acontece o encontro entre os dois, e então o casamento propriamente dito. Não sei ainda dos detalhes, mas irei me informando aos poucos, só sei que eles estão esperando mais de 1.000 convidados (!!!), sendo que a família de Mayank, o noivo, é responsável pela recepção de 400 deles, e a família da noiva responsável pelos 600 restantes. Lokesh me falou que um casamento é muito caro, custando por volta de 1 milhão de rúpias, sendo que a família da noiva é que é responsável pela maior parte, geralmente 70% dos custos (mulher é sempre mais cara). É muito dinheiro para o povo daqui, mas se formos considerar que equivale a 40 mil reais acaba sendo bem mais barato do que seria gasto no Brasil para uma festa com tantas pessoas, sendo que várias vêm de outras cidades e são os noivos que são responsáveis por providenciarem a hospedagem, incluindo nos hotéis.
Inclusive, Mayank tinha me falado que eu ficaria na casa dele, mas tinha dito a ele que não queria ser invasivo de forma alguma. Ele reservou o hotel para mim e fez questão de deixar tudo pago. Sou um convidado aqui.
Jaipur é uma cidade com grande tradição turística, e por isto são muito hospitaleiros e se orgulham muito disto. É conhecida como a Pink City, pois em 1853 o marajá daqui mandou pintar a cidade toda de rosa, símbolo de hospitalidade, para receber o príncipe inglês, e a tradição permaneceu até hoje. Foi por conta disto que Lokesh me falou que para ele "Guest is God". Aliás, acho que a palavra marajá, na acepção que conhecemos no Brasil, originou-se desta região. Li que durante o império britânico e posteriormente na independência daqui os marajás fizeram alianças e assim conseguiram manter seus títulos e propriedades, e foi nesta época que aconteceu deles viajarem pelo mundo esbanjando riqueza, até que consumiram tudo e hoje possuem uma vida modesta em seus palácios. Vou reservar um momento para conhecer o palácio do marajá, que também é um museu.
Mayank e Lokesh são sócios em uma empresa de informática, e convidaram Atul para conversarmos sobre negócios. Sim, só me permiti fazer uma viagem tão longa e cara porque identifiquei boas possibilidades de negócios a serem exploradas por aqui. Férias e turismo não me atraem por si só.
Mayank voltou para seus afazeres do casamento e saímos eu, Lokesh e Atul com Ram para visitarmos o Nahargarh Fort. O calor ainda era intenso e a paisagem bem seca nesta época do ano, mas a vista da cidade lá de cima era extremamente bela.
Jaipur é uma cidade relativamente grande, com cerca de 3 milhões de habitantes. A parte antiga da cidade foi toda planejada é ainda é bastante organizada. Lá de cima dava pra ver vários dos monumentos famosos da cidade.
Ficamos lá até o anoitecer. O forte hoje é um ponto turístico e possui um pequeno restaurante que funciona a céu aberto. Tirei várias fotos enquanto bebíamos cerveja e conversávamos sobre vários assuntos. Atul é uma pessoa que gosta muito de conhecimento sobre vários assuntos, e possui um pensamento bastante claro, de modo que rapidamente percebi uma identificação intelectual e daí foram vários assuntos filosóficos e culturais. Ele se declara agnóstico, acredita em Deus mas não segue nenhuma religião, e é a única pessoa que encontrei por aqui com essa característica de pensamento, todos os outros são hindus praticantes. Ele que tem me explicado de maneira objetiva vários aspectos acerca da cultura indiana, além de sempre acrescentar um ou outro conhecimento na conversa que esclarece o porque de certas coisas. Percebi também que ele é o cabeça da empresa nas questões de tecnologia, enquanto Lokesh é o comercial/lobby guy. Sempre brinco sobre o assunto com Lokesh, pois ele é da casta Agarwal e o comércio está no sangue dele, embora ele fale que é engenheiro e um homem de tecnologia.
Quando deu 6 da tarde comecei a ouvir uns cânticos ecoarem pela cidade, e perguntei o que era. Eles falaram que eram as mesquitas islâmicas e que todos os mulçumanos rezam àquela hora. Foi um momento muito belo, lá de cima vendo o sol se por, e todos aqueles cânticos ecoando pela cidade em sintonia. Filmei um pouco, mas é o tipo de experiência que só presenciando para sentir.
Voltei relativamente cedo para o hotel, para descansar mais da viagem, porém todos os dias costumo ter insônia a partir das 11 da noite até por volta das 4 da manhã, o corpo ainda se lembra do horário do Brasil.

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