segunda-feira, 17 de maio de 2010

13 de maio - Viagem para Mussoorie

Acordei as 9h da manhã e desci para o breakfast. O atendente me ofereceu algumas opções, mas sem conhecer nada pedi a ele que trouxesse o que ele achasse melhor. Chegou uma tigela de frutas com 3 variedades, incluindo vários pedaços de melancia, que não gosto, mas comi tudo sem pestanejar. E depois o famoso chapati com um molho picante qualquer. Está difícil diferenciar o que é o que nisto tudo. Comi à moda indiana, cortando os pedaços de pão e molhando no tal molho. Não entendi qual foi a diferença em relação ao jantar do dia anterior.
O hotel ficava à baira do Ganges e realmente oferecia uma bela vista para o rio. Acho que este é o maior motivo de ser tão caro a ponto de ser classificado como 4 estrelas. Na parte da frente do pátio estavam construindo uma espécie de grande quiosque, já na fase de colocar o telhado. Havia um homem colocando os tijolos e cimentando a parte central do telhado, e cerca de 4 garotos na faixa dos 12 a 14 anos carregando os tijolos para cima. Já tinha lido que na Índia só é considerado trabalho infantil abaixo dos 12 anos de idade, mas ver os meninos trabalhando foi bem estranho, me lembrou os tempos de antes, quando eu era menino, em que trabalhar com 12 anos ou mais era comum, e eu mesmo comecei a trabalhar com 13. Mas de qualquer forma foi uma visão incomum para mim.
Arrumei as malas, fiz check-out no hotel, e saímos para conhecer a região. Ram me apontou uma viela onde as pessoas estavam descendo pra ir ao rio, e ficou no carro esperando. Desci pelo caminho estreito cercado de lojas de souvenirs e fui seguindo o fluxo. Um pouco mais abaixo vi as pessoas entrando em um lugar, e percebi que era um templo. Entrei também pra conhecer.
Já adianto que não estou tirando fotos dentro dos templos. Considero deselegante tirar fotos das pessoas que estão rezando ou cultuando, ou do espaço dos templos. Enxergo como um local sagrado, e ficar lá com câmera em punho feito um bisbilhoteiro me parece muito ofensivo. Tiro os sapatos como todo mundo e entro nos templos como puro observador, apenas olhando tudo sem nada julgar, na postura de total respeito pela crença alheia. Quem quiser conhecer um desses templos por dentro terá que vir aqui ver com os próprios olhos.
Continuei andando e cheguei em uma ponte pênsil para pedestres que atravessava o rio. Eu falei pedestres? Bem, além da centena de pessoas vamos incluir motos e vacas na história. Fiz um filme na câmera para mostrar aquela coisa inusitada de estar em uma ponte cheia de gente com motos buzinando para passar pelo meio. Até agora não consegui entender se os indianos são muito educados para convivência em comunidade, ou são totalmente sem educação e respeito pelo espaço do outro. Minhas convicções ocidentais são muito limitadas para poder decidir sobre o assunto.
Do outro lado havia dois grandes prédios muito bonitos, coloridos e curiosos, que percebi serem centros de ensino e prática de meditação. Vi depois que Rishikesh é um dos maiores centros da Índia para prática de Yoga. Sei de uma galera que daria de tudo pra conhecer aqueles centros, e lá estava eu somente tirando fotos do lado de fora. É a vida.
Saindo de lá pegamos novamente a estrada para irmos para Haridwar. A cidade estava cheia de peregrinos que vão lá pra se banhar no Ganga. Ram falou que era outro rio, mas confirmei depois que era o próprio Ganges que tínhamos visto lá em Rishikesh e lá em Haridwar. O rio é bem extenso, com muitas pessoas se banhando nas margens. Não vou comentar sobre a quantidade infinita de moscas, mas apenas nas pessoas que estavam deitadas no chão dormindo nas margens do rio, além de algumas que estavam rezando ou comendo por ali. No meio do rio, eu uma ilha, havia uma espécie de templo com uma estátua gigantesca de Vishnu, o deus hindu de manutenção do mundo. Para aqueles que não conhecem existe Bhramin, que é o princípio pleno de todas as coisas, e dele derivam 3 deuses, Brama, Vishnu e Shiva, compondo a trimurti. Não adianta explicar os detalhes destra trindade por que em cada lugar que pesquiso encontro uma descrição diferente. Esta é uma característica que já observei, cada um explica os deuses como melhor entende, e cada um acredita da forma que mais convém. E no final das contas não há muita discussão, pois ninguém e todos estão certos. É realmente uma forma muito diferente de lidar com a "verdade".
Seguimos para uma outra parte do rio onde havia um espaço para as pessoas se banharem. Vale notar aqui que havia uma espécie de grade há 3 metros da margem para que as pessoas evitem ir para as partes mais fundas e se afoguem. A correnteza no rio é considerável.
Fui com Ram até a margem e acabei me motivando a tirar os sapatos e me molhar no rio, os pés, as mãos, e a cabeça. Meu olfato é confiável e percebi que o rio não era sujo, embora tivesse as águas turvas. Naquele ponto ali não era aquela coisa poluída que costuma-se ver na televisão.
Ram hesitou um pouco, mas depois se animou e tirou a roupa e entrou na água pra se banhar, de cuecas (grandes) como todos os outros homens. A água era bem gelada e ele falou que era bom pra saúde. Havia algumas poucas mulheres se banhando, mas absolutamente vestidas dos pés à cabeça. Fiquei ali olhando o povo se banhar mas sem disposição pra entrar. Depois fiquei pensando que poderia ter deixado de frescura e aproveitado a oportunidade para me banhar e contar pra todo mundo que já purifiquei minha alma no famoso Ganges. Quem sabe não conseguia lavar alguns dos meus pecados, uns dois que fossem já ajudava.
Dali seguimos de carro para Mussoorie, que é uma cidade a 2.000 metros de altitude, já próxima da fronteira com o antigo Tibet.
Chegamos lá relativamente cedo. A cidade era pequena com uma série de lugares remetendo a missões cristãs, devido à fundação recente pelos britânicos, e havia um grande número de tibetanos, todos sósias perfeitas do Dalai Lama, próximos em alguns templos da região.
A temperatura lá já era bem mais baixa, chegando mesmo a fazer algum frio. Procuramos um pouco e chegamos a um hotel que o tal amigo de Ram havia reservado para mim, desta vez um de 3 estrelas. Fiquei um pouco receoso por conta da experiência do que 4 estrelas, mas desta vez finalmente fiquei em um hotel bem decente, 3 estrelas bem classificadas.
Mussoorie é uma cidade encrustrada no meio da parte mais baixa do Himalaia, espalhada em poucos lugares relativamente planos no meio da montanha. A estrada para se chegar lá era daquele tipo que sobre contornando a montanha, com aquelas curvas de 360 graus que dá pra se ver a placa de trásdo carro. O hotel se localizava à beira da estrada incrustado na montanha, e a varanda do quarto tinha uma belíssima vista para o vale sem fim onde se encontravam várias cidades. Sim, ali era um lugar privilegiado, e encontrei a inspiração para começar a escrever o imaginado blog.

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