domingo, 16 de maio de 2010

08/09/10 de maio – A viagem de ida

O avião partiu pontualmente de Guarulhos as 16:30h. A passagem comprada em classe econômica para 18 horas de viagem antecipava uma viagem cansativa, mas o Airbus 340 da Lufthansa surpreendeu com o conforto da poltrona, o bom espaço para as pernas, um conjunto com travesseiro, manta e headphones, e um monitor individual. Pra não falar na gentileza e atenção da tripulação, e o serviço de bordo mais completo que já conheci. Foi um pouco mais caro do que em outras companhias, mas valeu a pena.
A leve ansiedade foi suficiente para me tirar o sono, li revistas, livros, um jornal em alemão para relembrar (não entendi nada!), assisti o filme de Sherlock Holmes em inglês sem legendas (não entendi quase nada!) e só dormi nas duas últimas horas de vôo, quando no Brasil seria entre 2 e 4 da manhã, contudo, em Munique já eram 9:00 e a tripulação começou a servir o café da manhã e preparar para o pouso.
Desci no aeroporto ainda com sono e os olhos ardendo. Tinha me informado sobre o tempo em Delhi, 40 graus Celsius com humidade, me preparei para encontrar um clima semelhante a Manaus e me lembrar de como é viver em uma sauna, mas a correria não me deixou lembrar como estaria em Munique, o jornal trazia a previsão de 5 graus, e eu não tinha trazido nada para o frio. Primeira missão: comprar uma jaqueta!
O terminal 2 do aeroporto de Munique é super moderno. Muito novo, bonito e bem equipado. Lembrei-me que a última copa do mundo foi na Alemanha o que deve ter motivado a reforma. Haviam várias lojas Duty-Free com uma variedade enorme de produtos, e bons restaurantes e lanchonetes. Comprei uma jaqueta bonita, sendo em euros foi naturalmente cara, mas vai me servir por muito tempo. Aproveitei também para comprar uma câmera fotográfica – sim, eu não tinha uma, não sou de tirar fotos.
Domingo ensolarado, 8 horas de espera até o voo para Delhi, perfeito para dar uma volta por Munique. Passei pela imigração sem maiores problemas. Já tinha ouvido falar que a Alemanha era tranquila para entrar.
Saí do terminal para uma área central aberta entre os terminais. Um vento gelado cortante me fez desenvolver imediatamente um apego emocional à minha nova jaqueta. Ao redor propagandas de carros elegantes e uma partida infantil de futebol em uma quadra de gramado sintético improvisada com perfeição. Fui seguindo as placas em direção ao “bahn” (sabia que aquele curso de alemão um dia ainda iria me servir pra alguma coisa!). Comprei a passagem válida para todo o dia em um terminal automático. A máquina só aceitava notas baixas, e eu só tinha de 50 euros, mas paguei tranquilamente com meu cartão de crédito. Adoro a modernidade!
Peguei um trem do aeroporto para uma das estações no centro. Curioso é que não havia uma cancela para embarque, nem portão, nem um funcionário para me solicitar a passagem. Aliás, em nenhuma das estações de trem ou metrô que passei havia ninguém para conferir a passagem. Já me disseram que de vem em quando passa um funcionário conferindo as passagens, e a multa é pesada se te pegam sem uma, mas definitivamente isto nunca funcionaria no Brasil. Talvez, quem sabe, daqui a uns duzentos anos nosso povo tenha consciência suficiente para se comportar adequadamente, mas antes teríamos que extinguir essa mania de querer se dar bem sempre que se tem oportunidade. Aliás, algumas pessoas que conheço vão mais além, e demonstram uma sincera satisfação quando acham qualquer oportunidade de burlar a lei, mesmo com ganho mínimo. É lastimável!
O trem atravessava uma área semi-rural, com grandes extensões de cultivo mecanizado, e alguns conjuntos residenciais. Tudo extremamente organizado, limpo e moderno. É admirável o perfeccionismo técnico alemão! Eu deveria ter nascido na alemanha, tenho uma enorme identificação com essa cultura. Quando eu estudava alemão nos anos noventa sempre me vinha a convicção de que eu devo ter nascido aqui em uma reencadernação passada.
Desci na Marienplatz, que deduzi ser no centro. A praça estava bem cheia de gente num aglomerado que percebi como uma concentração de torcida para um jogo do Bayern München. Saí andando pelo centro a ermo tirando fotos das antigas construções. Nada chama muita atenção na arquitetura alemã, é tudo austero e simples, sem o apreço por monumentos como costuma-se ver em Paris, por exemplo.
Almocei em um restaurante típico. Comida alemã é sempre porco, geralmente na forma de algum embutido, com repolho azedo e pretzel, igual aquele que vende no shopping, mas com casca dourada e com pedacinhos de sal (grosso?). Não sabia se me preocupava com o colesterol ou com a pressão. Acho que estou ficando velho...
Voltei ao aeroporto para pegar o voo para Delhi e já no monitor da estação de trem vi a notícia que por conta das cinzas do vulcão todos os voos tinham sido cancelados. Oh não!
O aeroporto estava bem cheio. Passei pela polícia de fronteira para ganhar mais um carimbo no passaporte (vou fazer coleção), e fui atrás de informações. A fila estava interminável, e ver algumas pessoas na fila sentadas no chão me desanimou a entrar nela. Consegui falar com um funcionário da Lufthansa no meu suposto portão de embarque e o mesmo me informou que não haveria mais voo naquele dia e estavam torcendo para que no dia seguinte estivesse liberado, que eu deveria ligar para central de informações mas estava bem difícil conseguir falar com eles, e que eu deveria pegar minha bagagem no desembarque e ir pra um hotel, mas adiantou que estavam todos bastante cheios. Diante da minha expressão animada de alguém que viajou 11 horas e não dormia há 24 ele me orientou a ir para o Marriot. me deu um ticket da Lufthansa e falou que tinha um ônibus da empresa que me levaria lá.
Poxa, a Lufthansa é boa mesmo! Hospedar a gente no Mariot não é pra qualquer um não, ainda mais com todos os voos cancelados. Desci para pegar minha mala e área de esteiras de bagagem estava um caos, tinha pra mais de 5 mil pessoas tentando achar sua mala e uma total ausência de informação sobre em qual esteira acharia a minha.
A maior parte das pessoas que conheço ficam muito consternadas em situações assim, e enfrentam a situação reclamando da sorte. Mas eu não consigo. Primeiro que nunca reclamo da sorte, pois nunca resolveu nada, e segundo que ser obrigado a enfrentar horas de filas e multidões me mortifica tanto que sempre fico achando que nunca deveria ter nascido, e que meu maior desejo é morrer o quanto antes. Sei que isto parece frescura, mas é verdade, faço de tudo pra não ser obrigado a passar por uma situação assim. Foi por isto que desenvolvi uma grande capacidade de antever as adversidades e me preparar para elas. Não coloquei nada de muito valor naquela mala, e poucas roupas, só um terno e uma camisa foram caros, e tudo poderia ser facilmente reposto. Sim, já havia contado com a possibilidade de perder a mala, e horas antes do embarque comprei uma mochila de tamanho médio para levar na mão. Coloquei nela tudo de importante como documentos, cartões, remédios, celulares, carregadores, livros e uma muda de roupa, em resumo tudo que me permitiria seguir viagem caso perdesse a mala. Sendo assim, eu poderia ir para o hotel descansar e deixar pra procurar a mala no dia seguinte. Se a mesma sumisse a Lufthansa teria que me reembolsar, e além disso comprei a passagem pelo Amex, o que me deu automaticamente um seguro contra perda de bagagem de até US$ 100,00 por quilo, além de várias outras assistências para viagem. O prejuízo seria pequeno.
Nem quis saber do ônibus, que calculei estaria cheio com tanta gente tendo perdido o vôo. Meus dois smartphones me permitiram achar o endereço do hotel, olhei no google maps e havia uma estação de metrô bem perto. Minha passagem comprada para o dia todo seria mais uma vez utilizada.
Cheguei no hotel por volta das 19h. A simpática atendente perguntou se eu tinha um voucher da Lufthansa e falei que só tinha aquele papel que o funcionário havia me dado e orientado ir para lá.  Ela olhou e re-olhou a lista de reservas procurando por todos meus nomes mas definitivamente eu não estava lá, tentou ligar pra Lufthansa algumas vezes mas estava totalmente congestionado, falou com outro hotel da rede e também não encontrou nenhuma referência. Aliás, ela achava difícil que a Lufthansa pagasse meu hotel, pois o voo foi cancelado por motivos não humanos, mas se eu quisesse ficar lá ela tinha quartos disponíveis, custava apenas 199,00 euros por noite. É, alegria de pobre dura pouco...
Bem, eu poderia ficar tentando insistentemente falar com a central de atendimento da Lufthansa para ver se no meu caso, de conexão cancelada, eles bancariam um hotel para mim, mas isto poderia levar horas. Poderia também acionar a assistência de viagem da Amex ou a central do clube de hoteis que participo para ver se encontraria um hotel mais barato, mas na Europa é difícil encontrar um hotel decente por menos de 150 euros. Mas se tem uma coisa que me motiva a trabalhar feito um corno é a liberdade de poder pagar para ter um pouco de conforto, e cansado como estava conforto era o que eu precisava. O quarto era maravilhoso, tomei um belo banho na banheira com água quente e sais. Nunca antes tinha dado tanto valor a um banho de banheira. Dormi 12 horas seguidas e só levantei porque precisava ainda resolver o problema da mala e marcar o voo de continuação para Delhi.
Chegando no aeroporto fui procurar minha mala, mas me informaram que a mesma tinha seguido para Delhi e eu a pegaria lá, hummm improvável. O aeroporto havia sido reaberto e os voos retomados regularmente, boa notícia. Só há um voo diário pra Delhi e consegui marcar tranquilamente.
A viagem foi tranquila, mais uma vez não consegui dormir e fiquei lendo e assistindo filmes. Ganhei mais 3,5 horas de fuso, totalizando 8:30 horas a mais, cheguei em Delhi as 7:30 da manhã do dia 11, mas no Brasil ainda eram 23h do dia 10. Bem, vou tirar vantagem da minha constante irregularidade de horários para me adaptar ao fuso e diminuir os efeitos do jetlag, mas acho que não vai ser muito fácil.

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